sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Atônita

Cacofonia
Que agonia
Gera em mim
Esse eterno sair
E entrar
De informações
Barulhos e dados
Sons e ilusões
Confusões
A me exasperar
Com suas desconexões
Meu raciocínio
Tão linear
Onde o certo
E o errado
Andam par a par
O incerto
Não pode
Jamais imperar
A rotina é o bálsamo
A acalmar
O turbilhão de pensamentos
De dados
De tormentos
Que invadem meu cérebro
A todo momento
Sem pedir licença
Sem avisar
E aqui ficam
Rodando, rodando
A me exasperar
E eu sigo
Paralisada
Sem saber o que
De mim
No meio dessa cacofonia
Sem ter como
Me desligar

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tão só não

Ter um tempo só meu
Sozinha
Sendo somente eu
Sem expectativas
A preencher
Sem meias palavras
A desvendar
Sem olhares anuviados
A compreender
Sem presenças outras
A perturbar
A placidez de minha alma
A doce liberdade
De estar plenamente só
Com meus sentimentos
Meus pequenos tormentos
Tolos desalentos
Com o conforto
De saber que a qualquer momento
Quando a liberdade virar sufoco
Posso retornar
Para a vida
Com a mente recuperada
Com a fé renovada
Com a alegria
A ser compartilhada
Com os que saão
Tão parte de mim

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Amor I

É tanto amor
Que transborda
De minha alma
Se solta
Irradiando
Uma luz
Que traz em si
Um silêncio
Tão pungente
Quanto mil cacofonias
Soando ao mesmo
Tempo
Esta coisa que pára
Sempre que estou
Ao lado seu
E me esqueço
Do que sou
Do que eu
E viro nós
Porque quando a sós
Com tanto amor
Nada me assusta
Senão essa força
Toda essa luz
Brilhante figura
Um único olhar
E me desanuvio
Me desintegro
Me esqueço
Me rendo
Me desconheço
Para tanto, basta um sorriso
Seu

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Shhhhh

Suponho que friozinho na barriga
Seja agradável
Nos lembra que a vida
É para sentir
E não se ficar parado
O mesmo não se pode dizer
Entretanto
Do fogo
Na boca
Do estômago
Essa irriquieta queimação
Que tira do compasso
Mente e coração
A fogueira na boca
Das entranhas
Nada tem de centelha divina
É a peso da mente em chamas
Resultado do coração que clama
A volta da paz perdida.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ansiedade

Palavrinha estranha
Sem grande beleza
Não inspira confiança
Não pressupõe singeleza

Ansiedade é o aperto
Que trazemos no peito
Que freia o sonho
Que desenrola o novelo

Pois ao pensar
Palavra após após palavra
Momento após momento
Sentimento após sentimento

O ansioso já criou
Em si um mundo
Já rezou um terço
Já entrou em desespero

Pois a ansiedade
É uma pequena lupa
Que torna tudo veneno
Que o mundo deturpa

O ansioso
Sofre duas vezes
Ao pensar que irá sofrer
E ao esquecer de viver

Pois remoer o que não aconteceu
O que não é ato
Tão só potência
Possui nefasta consequência

Ao viver encasmurrado
No eterno porvir
O ansioso, pobre desalmado
Esquece de existir

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Lidando com a dor

O que fazer
Com esse buraco no peito
Que só faz crescer
Com essa ânsia
Na boca do estômago
Que sem cerimônia
Me ceifa as esperanças
Dá um nó nas entranhas
Instalando um desassossego
Em meu coração

Como lidar
Com a solidão
De se amar quem lhe responde
Com a incompreensão
Não se deve esperar
Atitudes elevadas de uma pessoa
Tão humana quanto nós
É preciso saber perdoar
Ainda que as lágrimas corram
Quando estamos a sós

E torcer para que o coração
Pobrezinho, cicatrize
Que a dor, amenize
Que esses dias
Tão, tão tristes
Sejam apenas lembranças
A esquecer


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Menina-mulher

Ser mulher
Em um mundo bruto
Quase imundo
De fluxo ininterrupto
De devassidão
Onde ser feminina
Não é opção
Possível
Admissível
Aceitável
Admirável
Onde a delicadeza
Redunda em fraqueza
Onde lágrimas são motivos de vergonha
Onde somente o que impera
São gritos e afrontas
Onde nada de bom se espera
Do outro, do próximo
Ser mulher
Em um mundo duro
Onde os homens mandam
As pessoas sangram
Vidas são ceifadas
Infâncias são maculadas
Acreditar na beleza
Esperar a delicadeza
De um sorriso desinteressado
O calor, do abraço apertado
Ser mulher
Em mundo de homens
É não se deixar consumir
É não aceitar, é não cair
Nessa espiral
De desrespeito geral
É responder com amor
A ofensa recebida
É espalhar a gentileza
Por toda a vida
Ser mulher
É jamais deixar
De ser menina

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Plenitude (im)possível

E assim com coração cheio de esperança
Tal qual uma criança
Faço rimas fáceis, quase tolas
Dando risadas altas, soltas

Olhando a vida de peito aberto
Com o céu a descoberto
Sem nada a me guiar
A não ser o sonho de caminhar
Para algum lugar

Onde eu possa ser verdadeira
Onde eu possa ser inteira
Onde os sentimentos sejam plenos
Onde mesmo os sofrimentos sejam coesos

Porque sinto falta da coerência
Do educar pelo exemplo
Me assusta a inteligência
Dos que enganam sem desassossego

Pois quero a vida doce
Dos que fazem tudo sem nada esperar
A não ser a plenitude
De se viver sem desperdiçar

Desperdiçar a vida que todos temos
E poucos sabemos como levar
Perdendo tempo com o que pouco importa
Deixando as pequenas dádivas
Nos escapar

quinta-feira, 20 de junho de 2013

?

Creio ter o perdido
A habilidade de escrever versos
Não sei o que há comigo
Tantos sentimentos desconexos

Talvez nunca tenha realmente sabido
Escrever coisa alguma
Talvez seja somente a descoberta
Da verdade nua e crua

Sinto-me perdida e frustrada
Sem saber o que fazer
Não estou pronta
Não estou apta
Não sei como sofrer

Melancolia é uma coisa outra
Certo vazio sei sentir
Meia dúzia de lágrimas
Escorrendo salgadas
Sem vontade alguma de sorrir

Mas o que fazer quando dói a alma
Quando o futuro soa negro
Quando os prantos já não jorram
Quando tudo é desespero?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiro amor

Meu caso de amor com as palavras começou há bastante tempo, há mais de 20 anos. Tinha eu singelos 4 anos e um dia as palavras se revelaram, se desnudaram frente aos meus incautos olhinhos e me deram acesso a um mundo mágico, compreensível, seguro. Não que eu fosse superdotada ou algo do tipo, mas fui uma criança muito chata e insistente, que se entediava facilmente e que precisava de estímulos constantes.
Além disso, nasci em um momento complicado para a família e meus primeiros anos foram estranhos e difíceis, com uma série de adaptações e inseguranças. As pessoas que me cercavam fizeram o melhor que podiam, me dando todo o amor do mundo. No entanto, minha hipersensibilidade já despontava e eu logo percebia que não pertencia a lugar algum, que era diferente das outras crianças, pela minha própria natureza e pelas circunstâncias da vida. 
Diante de minha perplexidade para com o mundo, as palavras se mostraram companheiras constantes, a quem eu sempre poderia recorrer, que jamais me deixariam sozinha e que responderiam todas as minhas questões de criança curiosa. Compreensivelmente, minha avó que trabalhava e tinha 8 filhos e minhas tias, ainda muito jovens, não tinham a paciência para lidar com aquele serzinho cheio de expectativas e perguntas desconsertantes que eu mostrava ser.
Então, minha avó, essa mulher quieta, complexa e maravilhosa, e minha tia, que estudava para ser professora, começaram a me dar pequenas lições de alfabetização, com paciência e no pouco tempo que tinham. Aos 3 anos já conseguia copiar meu nome, a única coisa que era de fato minha e que me acompanharia por toda a vida, inefavelmente. 
E eis que um dia, como mágica, as palavras do rótulo do xampú colorama se comunicaram comigo. Eu sabia ler! Não fui tomada de assalto com a alegria que julgava que sentiria. Tudo me pareceu muito natural e orgânico - não havia motivo para alarde. Eu simplesmente estava fazendo algo que havia sido destinada a fazer desde sempre e para sempre.
Desde então as palavras, lidas ou escritas, são meu bálsamo, meu modo de enfrentar o mundo, meu modo de digerir a vida, de tentar compreender as pessoas. Nunca fui muito boa em relação a pessoas, sofrendo de uma ansiedade imensa ao lidar com elas. Talvez por ter lidado com certas perdas ainda muito cedo, talvez por ter mudado minhas condições de vida muitas vezes, ainda muito pequena.
Carrego em mim certa insegurança e certa noção de não pertencimento desde muito cedo, mas que vem se esvaindo com o tempo. Ao tomar consciência de mim, de onde vim e para onde quero ir, consigo vislumbrar relações humanas mais profícuas e naturais. Nada, nem ninguém, porém, jamais conseguirá fazer frente ao meu primeiro amor, ao meu destino, ao meu porto seguro: as palavras.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Amiga velha

Abro a porta
Após ruidoso despertar
Ando tropegamente
Sem sequer raciocinar

Quem chegaria em hora tão imprópria
Para tirar-me do meu sossego
Que visita tão inglória
Aparecendo num tropeço

Na soleira, lá está ela
Estranha visita
Em suas formas tão plurais
Ilustre desconhecida

Aperto os olhos, tento focar
Não consigo apreender
O que está a acontecer
Conheço-te de algum lugar?

Abre-se um sorriso
Sim, sim, já estive junto, contigo
Na infância, há duas décadas
Éramos vizinhos

Então cresceu e de mim se afastou
Encamusrrou-se e fugiu
Disseram que com a melancolia se encantou
E com ela se foi, ninguém sabe, ninguém viu

E hoje, como seu sorriso
Novamente se abre
Vim ter contigo
Prazer: meu nome é felicidade!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Sopro

Arde em mim
Pequena chama
Doce esperança
Tal qual brisa matinal
Com cheiro de orvalho
E profunda fragância
De laranjeira, afinal
O futuro se delineia
Em belo horizonte
A tudo o que me rodeia
Ei de construir pontes
Pequenos canais
Onde possa minha missão cumprir
Distribuir delicadezas aos montes
Ajudar o mundo a sorrir
Pois é o que trago em minha fronte
É o que trago toda em mim
Sorrisos, lábios doces
Para viver a vida feliz

Redenção

E eis que o inesperado acontece
O que antes era sofrimento, vergonha
Agora envaidece
A agonia, a tristeza
De repente, se emudece

A imagem por anos encarada
Como verdade notória e fatal
Se mostra agora esmaecida
Lembrança estranha e não querida
Encerrada como ponto final

A luta contra a própria natureza
Contra realidade paralela,
Dentro de minha cabeça
Se mostra agora infrutífera
Como negar tanta beleza?

O jeito desastrado, distraído
A cabeça avoada, tal qual
Pequena doidivana
Se revela agora pelo sorriso tímido
Repleto de esperança

Pois ser normal não existe
Integrar-se a todos, a tudo
Quer coisa mais triste?
Perder-se no homogêneo fundo
Ser mais uma no mundo

O antigo desejo
Se mostra agora triste piada
Tão mais lindo e único
Tão mais belo e benfacejo
Aceitar-se e amar-se por inteiro

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Tão verdade...

You either like me or you don’t. It took me Twenty-something years to learn how to love myself, I don’t have that kinda time to convince somebody else
Daniel Franzese 
 
em: http://thatkindofwoman.tumblr.com/post/39477907738/you-either-like-me-or-you-dont-it-took-me

Entremim

Já dizia Cecília
em verdadeiro soneto
Não sou alegre, nem triste
Sou poeta
Por inteiro

Não por escolha
Não por talento
Por fatídico destino
Eu e meu eterno desalento

A perene insatisfação
Que enfastia minha alma
Que cala meu riso
Que me paralisa as mãos

Como aprender com a vida
O que nem a escola
Nem mesmo família
Quiça nem Deus
(ó blasfêmia)
Ensina

A olhar no espelho
Sem subterfúgios, sem traumas
Com minha nua alma
E não entrar em desespero?

Como desvencilhar-se de sonhos alheios
De padrões que não são meus
De paradigmas outrora válidos
E hoje desfeitos, meros cacos

Como descobrir-me
Aceitar-me
Amar-me
Ou, quem dera, tolerar-me

Como se apaixonar por uma ilustre desconhecida
Pessoa arredia e sombreada
Com quem convivi toda minha vida
E de quem não sei nada