terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Noites Azuis - Joan Didion

“Quando falamos em mortalidade, estamos falando de nossos filhos.” Acabei de dizer isso, mas o que isso quer dizer? Tudo bem, é claro que eu consigo entender, é claro que você consegue entender, mais uma maneira de admitir que nossos filhos são reféns da sorte, mas, quando falamos de nossos filhos, do que estamos falando? Estamos falando do que tê-los significou para nós? Do que não tê-los significou para nós? Do que significou deixá-los ir? Estamos falando do enigma que é a promessa de proteger o que não pode ser protegido? De todo o quebra-cabeça que é ser pai ou mãe? 

“O tempo passa.” Sei, tudo bem, uma banalidade, é claro que o tempo passa. Então, por que eu digo isso, por que já disse mais de uma vez? Estarei dizendo isso da mesma maneira que digo ter vivido a maior parte da minha vida na Califórnia? Estarei dizendo isso sem ouvir o que digo? Será que eu ouvia assim: “O tempo passa, mas de um jeito não tão agressivo, de modo que ninguém percebe”? Ou mesmo: “O tempo passa, mas não para mim”? Será que eu não percebia a natureza geral ou a permanência da desaceleração, as irreversíveis mudanças no corpo e na mente, o modo como acordamos em uma manhã de verão, menos resistentes do que antes, e no Natal descobrimos que nossa capacidade de movimento está esgotada, atrofiada, exaurida?

O modo como vivemos a maior parte da vida na Califórnia, e então não mais? O modo como nossa consciência desse tempo que passa — essa permanente desaceleração, essa efêmera resistência — multiplica-se, propaga-se, torna-se nossa própria vida? “O tempo passa.” Será que eu nunca acreditei nisso? Terei acreditado que as noites azuis durariam para sempre? "

Lendo esse trecho de um livro que ainda não comprei, mas o farei assim que a fatura do cartão de crédito virar, percebo que há tantas coisas que perdemos simplesmente por não sabermos apreciar a sua provisoriedade, a sua não-permanência, a sua volatilidade.

Não tenho filhos - ainda, espero. Já presenciei Mães com os filhos recém-nascido (mães também recém-nascidas, portanto). Mães enfrentando a incalculável dor de perder o mais amado pedaço de si - seus filhos. Esta dor é tão antinatural que não consigo sequer vislumbrar, quem dirá compreender. É algo de inenarrável, de irrespirável, de inimaginável.

Suponho que ter um filho é lidar de frente com o que somos, em contraposição ao que desejaríamos ser. Como não transferir para tão pequena criatura todas as expectativas do Mundo? Como permitir que um filho vá para o Mundo, desprotegido, com a carapaça tão fininha que qualquer coisa pode atingi-lo?

São pensamentos soltos, que me assombram nesse momento, em que chove e a solidão parece se delinear. Um novo ano se divisa, repleto de possibilidades e promessas. E, mais do que nunca, a vida me parece uma nudez absoluta e absurda. Como nos proteger? Como proteger aqueles que amamos?

E a felicidade, nisso tudo? São apenas noites azuis, de um passado imemorial?

domingo, 15 de fevereiro de 2015

É carnaval...

E eu nem quero saber
Só quero descansar
Ler, dormir, escrever
Nada de samba no pé
Marchinha, frevo, axé
Sem fantasia ou abadá
As energias só quero
Recarregar

É estranho quando a gente não se identifica com as ditas tradições do seu país: não gosto de carnaval, como creio ter ficado claro. Futebol acho uma chatices, nada mais do que 22 caras suados...e cuspindo em rede nacional. A copa me deixou entediada e só consegui pensar que enfim uma oportunidade pelas escolas de samba arrasarem e fazerem uma hiper abertura. Só conseguimos sentir vergonha alheia de nós mesmos, diante da apresentação digna de festa de fim de ano da pré escola.

Não amo calor. Me incomoda, a gente fica suado, grudando, a roupa não cai bem, tudo fica mais difícil em matéria de viver em São Paulo, por exemplo. E tem as novelas...A última que eu acompanhei foi 4 por 4 e o ápice da minha cultura novelística é o clássico dos clássicos: Vamp! Como esquecer Natasha, Matosão e Matosinho...

Mas não sei o que se passa no Big Brother, no Pânico, no Faustão. Sou chata, intelectual? Não. Só nasci meio que fora de época, de lugar, de temperatura. Não tem certo e errado. Tem o esquisito...tipo eu...e os outros...

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Verdade

Bate no peito
Fora de compasso
Toques e repiques
Dores e dissabores
Erros, não acertos
Silêncio, silêncio...

No branco da existência
Vem o desespero
Prestando condolências
Ao intranquilo passageiro
Do corpo
Fora de si

Lágrimas secaram
Mas há a chuva
E os banhos demorados
Para relembrar
O peito, alquebrado
Como chorar
Por tudo
Por si

As dores foram sendo varridas
Oprimidas e escondidas
E tal qual os fogos de Copacabana
Um dia irromperam
Desavisadamente
Dilacerando o peito
E a alma
Outrora dormente

Pois não se pode enganar
As dores e frustrações
O peso dos sonhos
Quebrados
As vicissitudes
Do destino não vivido

Há que se encarar a podridão
Dos ossos desenterrados
Das emoções e
Das dores
Em decomposição

Exorcizar as dores
E os dissabores
Só é possível
Ao parar de disfarçar o lixo
Com um arranjo
De flores

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A vida nos prega peças
E verdades que dávamos como certas
Se mostram já anuviadas
Nubladas, embaçadas

A leitura de pessoas e situações
Que sempre foi um talento nato
Se tornou em diversos casos um tormento
Um pequeno obstáculo, um descalabro


Quebra

O tempo vai passando
Em um descompasso sem fim
Dias e anos,  meses, minutos
Fugindo, transfigurando
Minha vida, alheios a mim

Décadas já vivi
E quase nada apreendi
Olho no espelho e penso
Quem raios é essa aqui?

O cordão umbilical de outrora
Esteio que ligava ao porto seguro
Se converte em âncora
Em obstáculo
De meu caminho para o mundo

Mitos que me guiavam
Crenças cegas sem fim
Segurança que confortava
Quebraram-se em mim

Já não carrego mais certezas
Apenas dúvidas e questões
Abro-me a pequenas sutilezas
Apreendendo novas sensações

Para onde vou, já não sei mais
Como serei, já não sei
Não sei se creio no que vejo
Nada mais é como pensei

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Atônita

Cacofonia
Que agonia
Gera em mim
Esse eterno sair
E entrar
De informações
Barulhos e dados
Sons e ilusões
Confusões
A me exasperar
Com suas desconexões
Meu raciocínio
Tão linear
Onde o certo
E o errado
Andam par a par
O incerto
Não pode
Jamais imperar
A rotina é o bálsamo
A acalmar
O turbilhão de pensamentos
De dados
De tormentos
Que invadem meu cérebro
A todo momento
Sem pedir licença
Sem avisar
E aqui ficam
Rodando, rodando
A me exasperar
E eu sigo
Paralisada
Sem saber o que
De mim
No meio dessa cacofonia
Sem ter como
Me desligar

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tão só não

Ter um tempo só meu
Sozinha
Sendo somente eu
Sem expectativas
A preencher
Sem meias palavras
A desvendar
Sem olhares anuviados
A compreender
Sem presenças outras
A perturbar
A placidez de minha alma
A doce liberdade
De estar plenamente só
Com meus sentimentos
Meus pequenos tormentos
Tolos desalentos
Com o conforto
De saber que a qualquer momento
Quando a liberdade virar sufoco
Posso retornar
Para a vida
Com a mente recuperada
Com a fé renovada
Com a alegria
A ser compartilhada
Com os que saão
Tão parte de mim